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Uma parceria!

Permuta ajuda pequenos negócios a equilibrarem contas na crise

Franquias facilitam troca multilateral de produtos e serviços entre empresários sem que precisem mexer nas receitas

Que tal negociar produtos e serviços sem envolver dinheiro? Na pandemia, a prática comercial da permuta acabou ajudando pequenos negócios de diversos segmentos a equilibrarem contas e continuarem na ativa.

Com escassez de recursos, o sistema de trocas foi o jeito que muitos pequenos negócios encontraram para continuar a movimentar o caixa no período de medidas restritivas. Ou, em alguns casos, até a aumentar o faturamento, como aconteceu com a empresária Cybelle Medrado, sócia-proprietária da rede Mecanicar.

Na prática, redes de franquias, como a pioneira Clube da Permuta e a Kaz, conectam empresários em suas plataformas multilateralmente. Ou seja, quem negocia com determinada empresa não precisa negociar sempre com a mesma, já que cada uma tem um 'crédito' que pode ser gasto dentro dessas plataformas.

Com mais de 1,7 mil empresas cadastradas, sendo 90% pequenos e médios negócios, no Clube da Permuta o novo associado passa por análise e recebe um limite de crédito para realizar transações com os demais sócios.

Para se ter ideia do alcance do modelo, há cases de donos de supermercados que trocaram produtos por câmeras para o sistema de segurança, adquirem loja comercial, computadores e muitos até usam o modelo para quitar taxa de franquias. Tudo através do sistema de trocas, segundo o fundador Leonardo Bortoletto.

O diferencial, conforme explica, é que, quando o empresário vende, ou seja, disponibiliza o produto para permuta, ele não recebe em dinheiro. "Porém, quando compra, também não há retiradas no caixa.”

As transações também permitem que o empresário compre produtos e serviços pagando menos. Por já existir uma margem de lucros sobre cada item, ao trocá-lo ele acaba economizando acima de 50%, em média, sobre o valor do que for transacionado, segundo Matheus Albuquerque, CEO da Kaz.

Além disso, há rodadas de negócio mensais para que os 'aliados' apresentem suas propostas entre si. "Isso faz com que cada um mantenha a constância nas vendas, e reduza a capacidade ociosa de suas empresas", explica.

No caso da Mecanicar, o networking com outros aliados acabou atraindo novos clientes e parceiros, além de ajudar a aumentar a visibilidade da empresa durante o período de isolamento social, conta Cybelle.

"Também fizemos bons negócios por meio das oportunidades de conhecer outros empreendedores através dessa parceria, e isso acabou gerando um aumento das vendas em 15%", destaca.

De acordo com um levantamento feito pelo Clube da Permuta, em 2020 foram transacionados mais de R$ 47 milhões através do sistema de trocas, número que já aumentou 16% ao longo de 2021.

Mas fazer parte de plataformas de permuta não é tão simples. Além de passar por uma rigorosa seleção e análise de crédito, é preciso responder sobre o que a empresa tem a oferecer e quanto gasta com fornecedores.

Com esses dados, o sistema da plataforma entende como ela poderá contribuir com o ambiente em oferta e demanda, e o valor do crédito recebido é calculado com base nos dados de compra e venda da empresa.

NA PONTA DO LÁPIS

Tanto para o Clube da Permuta quanto para a Kaz, a ideia disruptiva deu certo, já que o modelo de conectar empresários por meio do sistema de trocas gerou unidades franqueadas para ambos por todo o Brasil - 23, no caso da primeira, nascida em 2018, e oito no caso da segunda, que surgiu durante a pandemia.

Além de as próprias estarem no franchising, muitos franqueados, de marcas que em geral realizam negociação única com fornecedores de produtos e serviços para toda a rede, têm procurado o sistema de trocas. Portanto, vale ficar atento a questões importantes, já que o setor é regulamentado pela Lei de Franquias.

Como a lei versa sobre o sistema no Brasil, regendo apenas a relação e o contrato entre franqueador e franqueado, a princípio não há nenhum obstáculo a um negócio cuja mecânica seja baseada em permuta de produtos e serviços, explica Sidnei Amendoeira, diretor jurídico da Associação Brasileira de Franchising (ABF).

Em sua avaliação, ainda que seja algo novo e particular, vêm surgindo novos modelos de negócio no franchising que mostram o dinamismo e a atratividade do setor. Mesmo assim, as orientações gerais se mantêm, como fazer uma boa circular de oferta de franquia, respeitar os prazos legais e colocar as informações obrigatórias.

Também é preciso um contrato bem desenhado para realização de outros negócios, de preferência com a supervisão de um advogado especializado. "O que talvez possamos acrescentar é um cuidado extra nas formas de remuneração do franqueado, além de área de atuação e política de indicação e captação de clientes", explica.

Thaís Kurita, advogada especializada em varejo e franchising e sócia da Novoa Prado Advogados, lembra que a Lei de Franquias não determina exatamente o que pode ou não ter no contrato entre as partes. Porém, se há cláusula prevendo que o franqueado só pode oferecer produtos autorizados pela rede, a permuta é proibida, explica.

Mas, se em termos legais não há nenhuma restrição, a princípio, a advogada orienta que o cuidado maior, nesse caso, deve ser no backoffice, ou seja, na atividade interna do franqueado, da 'loja para dentro'.

Em serviços que não têm a ver com a atividade principal e que são de sua responsabilidade, como limpeza ou motoboy, por exemplo, a permuta é uma prática interessante para equilibrar as contas, reforça.

Porém, segundo o Clube da Permuta, há empresas que usam os créditos para trocar por veículos, avião, apartamento e até casa na praia. Por isso, Thais alerta que é preciso olhar os números da empresa com cuidado.

"Faça as contas para ver se a troca será vantajosa, ou então a permuta pode gerar efeito perverso."